Verdadeiro: golfinhos podem forçar o sexo, mas ação não pode ser considerada estupro

Golfinhos-rotadores nadando no mar de Fernando de Noronha

Golfinhos-rotadores nadando no mar de Fernando de Noronha
Projeto Golfinho Rotador

Os golfinhos são considerados animais muito inteligentes e, normalmente, são associados a fertilidade e sexualidade. Aproveitando-se dessas características atrativas, há cerca de um mês a influenciadora Nicole Dück publicou um vídeo com curiosidades sobre esses animais no TikTok, que já conta com 6 milhões de visualizações e 1,1 milhão de curtidas.

No vídeo, a jovem afirma que não é cientista nem bióloga. Ela coletou na internet algumas curiosidades sobre os golfinhos e decidiu compartilhá-las com seus seguidores. Estupros, assassinatos em série, infanticídio, incesto, depressão e até suicídio estão entre os temas abordados.

Cynthia Gerling, coordenadora de Educação Ambiental e Sustentabilidade do Projeto Golfinho Rotador, patrocinado pela Petrobras, explicou ao MonitoR7 que na etologia — ciência que estuda o comportamento animal — é comum usar os mesmos termos para descrever humanos e animais. Algumas comparações, no entanto, são inadequadas, segundo ela.

A especialista ressalta que não podemos analisar nem julgar as ações dos golfinhos, ou de qualquer outra espécie, sob a ótica da legislação e ética dos seres humanos.

Estupro

Em um dos trechos do vídeo da influenciadora Nicole Dück, é citado que, durante um estudo, “um grupo de golfinhos machos cercou uma fêmea e a estuprou”.

Para Cynthia Gerling, a cópula desses mamíferos não pode ser considerada um estupro. “Trata-se de um comportamento de outra espécie que não está sujeito à ética e à legislação humana.”

O livro Golfinhos do Nordeste do Brasil, publicado pelo Projeto Golfinho Rotador, conta que a estratégia de acasalamento desses mamíferos aquáticos é poligâmica, a exemplo do que ocorre com os chimpanzés. Isto é, machos copulam com várias fêmeas, e vice-versa, durante o mesmo período reprodutivo.

Ainda segundo a obra, “em alguns casos, como os dos golfinhos-nariz-de garrafa e rotadores, ocorre grande incidência de machos se unirem e forçarem a fêmea à cópula”. 

Golfinhos podem matar os próprios filhotes?

Entre algumas espécies de golfinhos, a comunidade científica tem registro de machos que matam filhotes. A prática do infanticídio acontece com frequência entre animais que têm uma estrutura social, na qual um ou poucos machos monopolizam as fêmeas para reprodução.

Uma das explicações dos cientistas para os episódios de infanticídio, cometido por machos, é o retorno da fêmea ao período fértil.

As fêmeas de golfinhos têm alta dedicação à prole, acompanhando os recém-nascidos e filhotes durante dois anos. Além disso, apenas um filhote nasce a cada gestação, e o intervalo entre partos pode variar em média de 1 a 3 anos.

Nesse período de gestação, a cópula é interrompida, diminuindo a quantidade de fêmeas disponíveis para reprodução e perpetuação dos genes da espécie. A perda de filhotes é uma maneira de voltarem a ficar férteis rapidamente.

Outra explicação dos pesquisadores é que, ao reduzir a quantidade de animais, se diminui o consumo de alimentos e fica mais fácil proteger o grupo dos predadores.

De acordo com Cynthia Gerling, o infanticídio no mundo animal tende a ser um instrumento evolutivo para a sobrevivência de determinadas espécies em situações críticas de recursos naturais, e pode ser observado também entre chimpanzés, macacos da montanha, suricatos, leões e pombo-das-rochas.

Depressão e suicídio

Apesar de ser uma doença psiquiátrica diagnosticada em pessoas, há registro de golfinhos com depressão por não se adaptarem à vida em cativeiro.

As restrições impostas ao mamífero podem provocar “tristeza profunda”, agressividade — inclusive contra eles mesmos —, interrupção na alimentação e da interação com outros animais, com possibilidade de levá-los à morte.

A coordenadora de Educação Ambiental e Sustentabilidade do Projeto Golfinho Rotador diz que, cientificamente, não é possível afirmar que os animais desenvolvem esses comportamentos autodestrutivos para cometer suicídio. Eles não têm consciência de suas ações como os humanos.

Sexo pelo prazer

Publicado em 2019, um estudo da Mount Holyoke College, dos Estados Unidos, revelou que golfinhos também fazem sexo por prazer, e não apenas para procriar.

Patricia Brennan, professora assistente de ciências biológicas da universidade, descobriu que o clitóris desses animais compartilha semelhanças com o humano: o tecido é altamente vascularizado e densamente repleto de nervos.

Acasalamento de golfinhos em Fernando de Noronha

Acasalamento de golfinhos em Fernando de Noronha
Projeto Golfinho Rotador

“O sexo é a moeda da evolução […] Animais que têm alta motivação para buscar encontros sexuais provavelmente serão mais bem-sucedidos em transmitir seus genes”, afirmou Brennan em entrevista ao site da Mount Holyoke.

Pesquisadores também já observaram os mamíferos esfregando as regiões genitais dos parceiros com o rosto e as nadadeiras. O comportamento foi notado, inclusive, entre dois machos e duas fêmeas em ambiente natural, como foi descrito no livro Golfinhos do Nordeste do Brasil.

Intoxicação

Outra curiosidade espalhada sobre os golfinhos é que eles podem ficar “chapados” ao inalarem uma substância conhecida como tetrodotoxina, liberada pelo baiacu.

O documentário Dolphins: Spy in the Pod, do canal britânico BBC, traz cenas de golfinhos mastigando e brincando com baiacus. Segundo o longa-metragem, em pequenas quantidades, a toxina provoca efeito similar a uma droga nos mamíferos aquáticos.

O consumo do baiacu por seres humanos, por exemplo, pode levar à morte em razão da paralisia dos músculos respiratórios. No caso dos golfinhos, segundo a comunidade científica, a substância pode provocar dormência, como uma forma de transe. Entretanto, ainda não há um consenso sobre essa questão.

Cynthia Gerling afirma que os golfinhos podem carregar e lançar baiacus simplesmente como uma forma de recreação. Eles são conhecidos como “brincalhões” e já foram flagrados jogando, por exemplo, algas marinhas.

Projeto Golfinho Rotador

Em 1990, o projeto, administrado pela ONG Centro Golfinho Rotador, nasceu com o objetivo de promover a preservação dos golfinhos e da biodiversidade marinha no arquipélago de Fernando de Noronha.

O projeto é dividido em quatro programas: pesquisa, educação ambiental, envolvimento comunitário e sustentabilidade. O principal objetivo da instituição é sensibilizar ilhéus e visitantes quanto à necessidade de preservar os golfinhos e o planeta.

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