Macron não aceita renúncia de primeira-ministra francesa após fracasso em eleições legislativas

A primeira-ministra Elisabeth Borne e o presidente francês Emmanuel Macron

A primeira-ministra Elisabeth Borne e o presidente francês Emmanuel Macron

Gonzalo Fuentes/AFP – 18.06.2022

A primeira-ministra da França, Elisabeth Borne, apresentou o pedido de renúncia ao presidente Emmanuel Macron depois que o partido governista perdeu a maioria absoluta no Parlamento nas eleições legislativas do último domingo (19), mas o chefe de Estado não a aceitou, anunciou a Presidência nesta terça-feira (21).

De acordo com o Palácio do Eliseu, o presidente deseja que o governo “continue trabalhando e agindo”. Com esse objetivo, Macron vai fazer as “consultas necessárias” a outros partidos de oposição para apresentar “soluções construtivas”. Borne vai reunir o ministério nesta terça-feira.

A coalizão Juntos!, de Macron, conquistou 245 das 577 cadeiras da Assembleia Nacional (Câmara Baixa), ou seja, 44 menos que o necessário para continuar com a maioria absoluta.

A frente de esquerda, com a sigla Nupes, que reúne a esquerda radical, ecologistas, comunistas e socialistas, conquistou 137 cadeiras e o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, obteve 89, resultado que multiplica por 11 o número de deputados eleitos pela formação em 2017.

 

 

Renúncia natural

 

 


É costume o chefe de governo oferecer sua renúncia após as eleições legislativas. Em geral, o presidente a aceita e o reconduz ao cargo.

No entanto, nesta terça-feira, Emmanuel Macron optou por rejeitar essa renúncia ritual, quando uma série de obrigações internacionais (Conselho Europeu, G7, cúpula da Otan) lhe são apresentadas a partir de quinta-feira.

Macron, que foi reeleito em abril para um segundo mandato de cinco anos, receberá os chefes dos partidos da oposição nesta terça e na próxima quarta-feira.

Ele já se reuniu nesta manhã com o presidente de Os Republicanos (LR, à direita) e o primeiro secretário do Partido Socialista (PS).

A França Rebelde (LFI), o principal partido da frente de esquerda Nupes, liderada por Jean-Luc Mélenchon, planeja apresentar uma moção de censura contra o governo em 5 de julho.

Se a maioria dos deputados votar nela — o que exigiria um improvável acordo entre esquerda, direita e extrema direita —, o governo cairá.

“Valores republicanos”


A França entra em um período de grande instabilidade política devido à falta de maioria absoluta para as tropas de Macron na Assembleia Nacional.

A coligação liberal centrista, que obteve uma confortável maioria absoluta no primeiro mandato de cinco anos (estabelecido em 289 deputados), mantém apenas 245 lugares de um total de 577 depois das eleições legislativas de domingo.

Atrás do Nupes e do RN, a clássica direita do LR, com 61 deputados, pode ser colocada na posição de árbitro e por isso o acampamento presidencial lhe estendeu imediatamente a mão.

Mas antes de seu encontro com Macron o presidente do LR, Christian Jacob, rejeitou nesta terça-feira qualquer ideia de um pacto com o governo, dizendo que seu partido não se tornaria o “pneu sobressalente” da maioria do governo. “Continuamos na oposição, de forma determinada, mas responsável”, disse.

O secretário-geral do LR, Aurélien Pradié, no entanto, havia indicado na segunda-feira que “de forma alguma” votaria a moção de censura da esquerda, com a qual não compartilha “valores republicanos” ou “projetos” comuns para o “futuro do país”.

A coalizão presidencial, cujo projeto de aposentadoria aos 65 anos é rejeitado tanto pela esquerda quanto pela extrema direita, pode fechar um acordo de governo com outros partidos, algo comum na Alemanha, mas incomum na França.

Essa situação coloca mais uma vez o Parlamento francês no centro do jogo político, algo que não acontecia desde 1958, quando foi estabelecida a V República.

Após cinco primeiros anos marcados por episódios que dividiram os franceses, como o movimento popular dos “coletes amarelos” em 2018-2019, e num contexto internacional tenso que afeta o poder de compra da população, Macron — muitas vezes descrito como “presidente dos ricos” — tem uma popularidade mediana: 56% dos franceses acreditam que ele não é um bom chefe de Estado, de acordo com pesquisa Odoxa de 31 de maio.