Pouco mais de um ano depois de ter assumido a
prefeitura de São Paulo, após a morte de Bruno Covas, Ricardo Nunes (MDB), faz
um balanço do período marcado pela pandemia de Covid-19, pelo elevado número de
internações em função da doença e diz que, apesar das dificuldades, conseguiu transformar
a cidade na “capital mundial da vacinação”, aprovar todos os projetos que
enviou à Câmara de Vereadores e que acabou com o “turismo de crack” no centro da
cidade, na região conhecida como Cracolândia.
À
frente da prefeitura desde o dia 16 de maio do ano passado, Nunes diz que sua
administração dá continuidade à de Bruno Covas. A baixa popularidade, apontada
em algumas pesquisas, ele atribui à crise de saúde pública provocada pelo coronavírus
e pelo desemprego. Afeito ao diálogo e à conciliação, ele afirma que seu estilo
de administrar se assemelha ao do antecessor. Nunes também defende que a
política não deve ser negada. “Quem nega a política para fazer marketing faz um
desserviço à sociedade”, disse. “Quando alguém está no bairro e faz uma
reclamação, está fazendo política.”
Em relação à baixa popularidade apontada por pesquisas de opinião, Nunes diz que “é preciso receber com
muita humildade.” Segundo ele, os levantamentos ainda refletem a crise decorrente da Covid-19. “A partir dos resultados, procurar se dedicar cada vez mais,
mas reflete um momento de pandemia, em que as pessoas estão com a sensibilidade
aflorada, tem o desemprego. As pessoas vivem nos bairros, onde há um reflexo
maior do sentimento em relação ao município.”
Nunes vem sendo elogiado pelo bom relacionamento com a Câmara dos Vereadores e pela aprovação de importantes projetos para a cidade. “Ter uma boa relação tem a
ver com a personalidade de cada um, a minha tem a ver com o
diálogo e eu defini como pauta a cidade, não defini como pauta ser de direita
ou de esquerda, ser contra governo A ou B. A minha relação com o governador
Rodrigo Garcia é excelente, com o presidente Bolsonaro, excelente. Quando a gente consegue separar as pautas do trabalho das partidárias aí você
passa a ter sucesso.”
“Durante a pandemia,
preparando a cidade para a retomada econômica, emprego e renda, levei aos
vereadores todas as pautas que a gente tinha, pegava sugestões e acolhia as
viáveis. Quando as pessoas se sentem participantes do processo, cria-se uma
relação importante que dá resultado para a cidade. Todos os projetos que eu
enviei para a Câmara foram aprovados. Conseguimos quantidade e velocidade. São
Paulo tem velocidade e precisamos que os órgãos tenham essa mesma velocidade.”
O prefeito disse à reportagem que as condições financeiras da cidade possibilitaram a destinação de mais recursos às ações na região da Cracolândia. Segundo ele, a concentração de usuários na região central da capital que é
um problema social, mas também de segurança pública. “A cidade de São Paulo não
vai aceitar que se tenha uma feira livre de venda e de consumo de drogas a céu
aberto como se fosse algo normal”, disse ao R7, em entrevista exclusiva.
Pessoas apontadas como traficantes, explica o prefeito, utilizam
usuários como “escudos”. “Foi necessário diminuir a força do tráfico para
entrar com ações de assistência e saúde”, afirma. Segundo a administração
municipal, foram realizadas mais de 120 prisões. “Ao quebrar esse elo, deixamos
o usuário mais suscetível a nossa abordagem social e de saúde.”
À reportagem do R7, Nunes apresentou o sistema de monitoramento das quadras de
São Paulo e disse que tem participado pessoalmente das decisões de segurança,
iluminação, assistência social e saúde. “Estou muito consciente do desgaste
político que posso ter, mas estou disposto a enfrentar”, afirmou
Nunes contou ainda que “é o único prefeito que veio da periferia” de São Paulo. “Sou o único prefeito que estudou em escola pública, usou serviço de saúde pública, usou transporte público, montou um negócio em uma sala pequenininha 2×2 e deu certo e constituiu família.” Ricardo Nunes (MDB) contou que, ao inaugurar uma reforma de quadras em São Paulo, se lembrou do período em que estudava em escola pública e havia quadras sem coberturas e com piso de cimento. “Hoje tem cobertura em todas as escolas”, disse.
Após uma série de ações de segurança na região da Cracolândia, Nunes disse que moradores do centro de São Paulo podem voltar a circular pelas ruas. “Não é aceitável que as pessoas não tenham acesso as praças e espaços
públicos da cidade. A prefeitura tem que cuidar para que todas as pessoas que
moram e trabalham em São Paulo tenham acesso ao espaço público. Hoje, você pode
frequentar a praça Princesa Isabel com segurança e tranquilidade, de uma forma
saudável. Percebemos moradores com seus filhos, andando de bicicleta, com seus
cachorros.”
O prefeito lembrou ainda da morte de Bruno Covas, após uma luta contra um câncer, em maio do ano passado. “Foi um grande exercício
de superação, me vi naquele momento em uma situação de perder um amigo. É
difícil conviver com a dor da perda de uma pessoa que, além de ser um grande
político, frequentava a minha casa. O Tomás [Covas] é amigo dos meus filhos”, afirmou. “Eu sou muito cristão, procurei buscar dentro de mim, da
minha fé, da equipe e do apoio da sociedade a superação desse momento. Todo
mundo falava e credito que foi a melhor homenagem que eu fiz para o Bruno: trabalhar
e superar aquela situação. Conseguimos.”